1. Qual a posição da Ciência no que toca às chamadas
"paraciências" e ao "paranormal" em
geral?
-
De um modo geral é de desconfiança, de recusa em
considerar as reivindicações dos adeptos das chamadas
"paraciências". As justificações dos
cientistas são diversas, mas assentam, no essencial, no
facto de muitas dessas experiências ou campos
fenomenológicos escaparem ao crivo da verificação e
da réplica experimental. Na esmagadora maioria trata-se
de manifestações singulares, irrepetíveis,
subjectivas, de fenómenos rebeldes a réplicas
laboratoriais. Assim, não sendo possível novas
induções, por diferentes grupos de investigadores, com
os mesmos pressupostos, qualquer fenómeno alegadamente
novo carece sempre de uma teoria explicativa que não
dependa do observador. Certamente são estas as
condições que se aplicam a fenómenos físicos,
supostamente externos e objectivos. Há também outras
reservas ou limitações, bem conhecidas do ponto de
vista sociológico, que se prendem com as necessidades
do investigador e do académico se subordinar às regras
de consenso no interior da comunidade de que faz parte.
Muitas vezes, este poder cerceia as potencialidades dos
investigadores mais "ousados" concederem algum
do seu tempo ao estudo das chamadas
"anomalias" em Ciência, que sempre existiram
como a "matéria escura" do conhecimento. Tal
como a "matéria escura" ou "negra"
que compõe uma larga porção da massa do Universo, do
mesmo modo não podemos calcular a imensidade de factos
novos, talvez contraditórias das teses agora
consagradas, que abundam nesses territórios do
desconhecido. Um outro factor que pesa, com frequência,
na recusa dos cientistas em abordar as áreas
paradoxais, tem a ver com a falta de informação que
gera desconhecimento. Um ciclo que não se rompe, pois a
ignorância do que se passa, por sua vez, mantém-se por
falta de informação.
2.
Que áreas, normalmente associadas aos limites do
conhecimento ou além deles, têm hoje condições de
serem acolhidas em centros de vanguarda e nos curricula
académicos?
-
É
sabido que o nosso país tem mantido uma relação
difícil, e geralmente em diferido, com as propostas
mais ousadas da inovação e do conhecimento
"heterodoxos". A situação periférica de
Portugal, por desditas geo-históricas, tem contribuído
para uma prolongada ignorância das abordagens mais do
que poderíamos designar por NCT's - Novidades
Cientificamente Transmissíveis. Sem mais delongas, e
para uma informação definitiva, deixamos aos leitores
uma lista sumária dos principais centros
universitários e associações científicas
internacionais que acolhem investigações correntes
acerca de fenómenos anómalos, ainda não
sistematizados, por isso "paranormais". A
consulta aos links que propomos nesta página
assegurará a indispensável actualização destas
sugestões. Nos EUA: Parapsychological Association,
membro (desde 1969) da prestigiada American Association
for the Advancement of Science; Society for Scientific
Exploration, com centenas de membros de todo o mundo,
sediada na Universidade de Stanford; Laboratório de
Investigação de Engenharia de Anomalias, da
Universidade de Princeton (a de Albert Einstein): o
Center for Counsciousness Studies, na Universidade de
Tucson, Arizona; a cátedra de Parapsicologia na
Universidade de Virgínia, desde 1969 (prof. Ivan
Sanderson); Center for Psychological and Social Change,
na Universidade de Harvard; Center for Frontier Sciences,
na Universidade de Temple; a cátedra de Consciousness
Studies na Universidade do Nevada (prof. Charles Tart).
Na Europa: The Retropsychokinesis Project, na
Universidade de Kent, Reino Unido; Koestler
Parapsychology Fund, na Universidade de Edimburgo (prof.
Robert Morris); Mind-Matter Project, no Laboratório
Cavendish da Universidade de Cambridge, dirtigido pelo
prof. Brian Josephson, prémio Nobel da Física; Project
Anomalous Cognition, na Universidade de Amesterdão;
Curso de Parapsicologia na Universidade de Utrecht
(prof. Dick Bierman); Instituto para a Investigação
Psicológica, na Universidade de Freiburg, Alemanha,
fundado pelo prof. Hans Bender; Universidade da
ex-Leninegrado (actual S. Petersburgo), e Fund Of
Parapsychology, de Moscovo (dedicada ao prof. Vassiliev); No Japão: Sony Corporation
Laboratory, o maior
laboratório do mundo de estudos de fenómenos Psi,
dirigido pelo prof. Yoichiro Sako; International Society
of Life Information Science, na Universidade de Tóquio
Denki.
3.
Será legítimo integrar na actividade científica
corrente o estudo de áreas problemáticas que,
normalmente, são consideradas fora da intervenção
autorizada das Academias?
-
"A
descoberta começa com a consciência da anomalia, ou
seja, a impressão de que a Natureza, de uma maneira ou
de outra, contradiz os resultados esperados no quadro do
paradigma que governa a ciência normal". A frase
é de Thomas Kuhn, um dos mais celebrados filósofos das
ciências contemporâneos, autor de "A estrutura
das revoluções científicas" (edição original,
Universidade de Chicago, 1962), obra maior inspiradora e
guia de frutuosas reflexões sobre o destino e
finalidades da ciência, enquanto sistema organizador do
"senso comum" da Inteligência, dos seus
limites e actualizações e reajustamentos. E é
precisamente pelas anomalias, enquanto factos desviantes,
inéditos, que a validade dos paradigmas (teorias)
começa a ser testada até ao limiar possível. A
assimilação de novos factos ou fenómenos é muito
mais do que um complemento que se acrescenta
simplesmente a uma precedente teoria e, até que o
reajustamento que ela exige esteja terminado (momento em
que o homem de ciência tenha aprendido a ver a natureza
de um modo diferente), o facto novo não é ainda um
facto científico" - adverte o cientista, físico e
professor no M.I.T., no seu ensaio capital sobre
problemas centrais da epistemologia, em suma, dos
limites temporais do Conhecimento e das relações do
ser humano integrado com o universo integrador. Pensamos
ser admissível e, mais ainda, desejável, a
confrontação do que se conhece com as dimensões
ousadas e as teorias estimulantes que insinuam atalhos
na exploração do futuro do ser humano e do cosmos que
o integra. "Haverá rasgões no espaço que dêem
para outro lado ?" - assim se interrogava Fernando
Pessoa na "Mensagem", em profética intuição
sobre a complexidade do Cosmos e as
revelações/revoluções constantes geradas pelas novas
e magnas questões da macro e micro observação do que
nos rodeia. Condicionado por três dimensões únicas a
que normalmente acede o ser humano é um prisioneiro dos
seus sentidos, das suas ilusões, fragilizado perante a
virtualidade fenomenológica da Meta-Realidade inscrita,
por exemplo, no vasto oceano do espectro
electromagnético do qual partilha um ínfima fracção.
Que dimensões adormecias se alojam no cérebro humano?
Da fusão entre essa invocada inacessibilidade espectral
e incapacidade cerebral, parece-nos pacífico que a
resultante só poderá ser a de um indivíduo
extremamente limitado e inseguro nas leituras que faz do
universo que o acolhe.
4. De que modo ser entendida a sigla OVNI? Que leituras
poderemos fazer dela?
-
Independentemente
de qualquer hipótese explicativa para as observações
de fenómenos deste tipo, a "fenomenática"
OVNI organizou-se gradualmente em mito contemporâneo,
favorecido pelo próprio contexto civilizacional em que
nos situamos - a idade da exploração espacial - que,
logicamente, teria de produzir
"extraterrestres" em digressão pelo nosso
orbe, com intenções várias e procedências diversas:
ora de um Além sem lugar, numa leitura mais religiosa,
a intervenções de habitantes de um mundo tecnológica
e civilizacionalmente muito superior, capaz de suprir as
limitações sustentadas pelos pressupostos
einsteinianos da velocidade da luz. O OVNI, deste modo,
foi facilmente associado a visitas de engenhos voadores
fantásticos, produzidos por uma ou mais civilizações
ET cuja ciência será, deste modo, idêntica à magia
(Lei de Clarke). Mito e realidade são, assim, de facto
os contornos subjectivos e objectivos do problema,
coabitam nele enquanto singularidade num implícito
desafio epistemológico. O tema, por si, reclama uma
evidente aplicação interdisciplinar e multidisciplinar,
espécie mesmo de laboratório-tipo para a prática
(crescentemente almejada pelos teóricos da filosofia
das ciências, na busca de novos modelos e paradigmas)
desse exame multímodo, holístico. Aparte o contexto
mítico - extremamente proveitoso para uma observação
directa das Ciências Humanas e Sociais, (Sociologia e
Psicossociologia) porquanto se trata de um típico
"myth in the making", a fenomenologia OVNI é
por isto mesmo factual e concreta (numa tentativa de
definição...): uma síndrome complexa de fenómenos
(uma pluralidade de origens e causas ?) relativo a
experiências e observações no ambiente próximo ao
observador, de objectos e estruturas, luminosas ou não,
de comportamento, duração e espacialidade, geralmente
aleatórios, e cujas observáveis (natureza,
propriedades, efeitos, cinética, forma, etc.), quando
confrontados com os padrões correntes de fenómenos
comuns e catalogados pelo conhecimento científico, não
podem ser classificados, provisoriamente ou não, nessas
categorias prévias da sistemática. Sendo impossível a
classificação pela positiva, passa a sê-lo pela
negativa, após esgotadas todas as alternativas
"racionais" conhecidas, em termos de objectos
e fenómenos conhecidos no estado actual da Ciência:
donde, o não identificado do objecto ou fenómeno em
referência, espécie de parêntesis semântico à
espera, talvez, de novas categorias de compreensão, no
sentido kantiano do termo, mas que não acarreta
qualquer compromisso com procedências ou naturezas
convencionais e, neste caso, popularizadas, por óbvia
conotação e conforto de um espírito sem quaisquer
outras referências: de facto, à opinião comum de uma
subcultura urbana recheada de imagens-padrão
específicas da nossa tecno-civilização espacial,
difundias pelos media, pela literatura, cinema, etc., o
OVNI tem de ser -só pode ser -extraterrestre porque
representa o objecto-ideal-limite do-possível
terrestre, a resposta mais óbvia e fácil, em termos
míticos (no sentido que lhe deu Levi-Strauss) para o
inextrincável desafio científico que "ele" e
as suas observáveis sugerem. Mito todavia complementado
pela realidade, pois, para lá das implicações
míticas já consideradas, há que considerar as tais
componentes físicas de fenómenos e objectos não
identificados, susceptíveis de avaliação
não-subjectiva: marcas, efeitos secundários de ordem
psicossomática e fisiológica em seres humanos, efeitos
registados no ecossistema, em instrumentos (radar,
equipamentos de bordo de aeronaves, etc.) documentos
fotográficos e vídeo, p.ex. Há, assim, elementos
encorajadores e suficientes para que seja possível e
desejável uma investigação científica plena dos
fenómenos aero-espaciais não identificados,
vulgarmente chamados OVNI (acrónimo sem plural e não
substantivo...) - que vai do registo pessoal,
morosamente documentado em todos os seus parâmetros
até à recolha de indícios materiais, passíveis de
fornecer pistas coerentes e inteligíveis em termos de
relação causa-efeito, etc.- e que recusa qualquer
posição a priori, preconceituosa e tem que ter em
conta metodologias rigorosamente testadas,
intervenções no terreno seguras e competentes em
condições absolutamente controladas, sobretudo no caso
em que há necessidade de despistagem de resíduos ou
medição de elementos da bioquímica os solos, etc.
Qualquer contaminação, involuntária que seja, pode
deturpar leituras e anular os resultados pretendidos.
Dada a existência na comunidade científica de
investigadores disponíveis para estudar esta questão,
entende-se ser possível uma abordagem séria, objectiva
e rigorosa, que se afere pelos padrões e critérios
metodológicos do conhecimento adquirido, do complexo
fenomenológico definido pela sigla OVNI. Entre nós,
por exemplo, a Comissão Nacional de Investigação do
Fenómeno OVNI, fundada em 1983, pugnou ao longo da sua
existência por um exame desapaixonado, competente e
crítico destas questões em sede própria, e não com
base em "leituras" e tratamentos
jornalísticos que não favoreceram a abordagem e o
exame ponderado de todas as suas vertentes. Antes pelo
contrário, prefere-se a abordagem pelo lado do
espectáculo, que leva facilmente à desqualificação
social dos testemunhos e das testemunhas, sem se cuidar
de implicações éticas e de protecção das mesmas,
como é norma de qualquer sujeito co-participante em
processos investigativos, correntes em Ciência. Tais
"leituras" afiguram-se, assim, pouco
consentâneos com o interesse, seriedade e empenhamento
de uma vasta comunidade científica internacional destas
áreas da "marginalidade" dos saberes,
infelizmente ignorada pelos media.
5.
Quais são os principais obstáculos que impedem uma
adequada compreensão do significado estrito da sigla
OVNI e uma correcta avaliação dos fenómenos que
envolve, para lá da sua dimensão mítica recuperada
pela cultura popular e contemporânea?
-
Estas
manifestações pertencem às áreas de
"mistério", esotéricas, inacessíveis à
experiência quotidiana do vulgo e situam-se no mesmo
quadro de impossibilidades vividas apenas pelos
"outros". O fenómeno OVNI coincide com o
imaginário "extraterrestre", destacando-se
pela carga emocional equivalente à fé e à crença. A
função da crença, como fulcro valorativo de
verdade/inverdade surge, precisamente, pela carga
mítica que tem sido associada a estes eventos
"extraordinários", invulgares. A
intervenção do ET não se consegue racionalizar:
aceita-se ou não. E daí a crença/descrença, sem
mediação de um processo de análise silogística. O
irracional moderno, actualizado e representado pelo
fenómeno OVNI, tal como as bruxas do período
pós-tridentino, encontra-se, compreensivelmente no
gueto das impossibilidades, porque como diz o professor
Carvalho Rodrigues "é o sentimento que mede estes
fenómenos raros, pouco frequentes (ou acessíveis),
porquanto estamos habituados a fazer medidas de crença
de tudo e também destes fenómenos muito fora do
contexto", não apreendidos e organizados
("domesticados") ainda pelos nossos sistemas
de crença". Daí se "entenda" o ambiente
esotérico "injectado" na sequência de alguns
casos portugueses, como o de Pedrogão Grande, com as
imagens de uma seita israelita messiânica à espera dos
ET Superiores tecnológicos, aguardados no século XXI
em singular "ETódromo"... Pensamos seriamente
que a factualidade tipo OVNI merece uma melhor e
aperfeiçoada atenção da parte dos orgãos de
Comunicação Social. Sugere-se também que esse
eventual acompanhamento seja conduzido por um discurso e
linguagem adequados, objectivo e "neutro",
fundamental para o exercício e tratamento das questões
científicas e técnicas, que exigem rigor e formação
específicos, recorrendo a especialistas que trabalham
directamente nestas questões; pela recusa da ironia
fácil (é tentador brincarmos com o que se desconhece,
talvez para o exorcisarmos melhor, remetendo-o para a
"matéria negra" do inconsciente),
transcrevendo a experiência alheia sem introduzir
convicções pessoais empíricas e, sobretudo, atender
à possibilidade de pessoas comuns, vulgares, puderem
ter sido surpreendidas por fenómenos que até então
desconheciam ou não puderam identificar de acordo com
os seus referentes informativos. Cabe, pois, à
investigação científica verificar da legitimidade das
suas suspeições, podendo ou não concluir-se que os
alegados factos têm (poderão ter) explicações bem
prosaicas - num quadro aberto e amplo de hipóteses de
trabalho, não exclusiva - o que não invalida a
provável boa fé das testemunhas, porventura incapazes
ou não informadas de muitas das alternativas racionais
à sua (deficiente) interpretação.
6.
A Ciência aceita a possibilidade de sermos visitados,
de vez em quando, por civilizações extraterrestres a
bordo de naves espaciais que hoje definimos como OVNI's
?
-
Esta questão não depende da discussão sobre a
natureza dos chamados "Objectos Voadores Não
Identificados", que a cultura popular mediática
ajudou a construir como sinónimo de "nave espacial
extraterrestre". A inexistência de "verdadeiros"
OVNI's de procedência ET não anula a forte
possibilidade de existência de civilizações
alienígenas, com uma capacidade sócio-tecnica e
científica infinitamente superiores à nossa, na ordem
dos milhares ou milhões de anos, o que eventualmente
lhe concederia a capacidade de viajar no espaço, tal
como nós hoje viajamos nas imediações do nosso
planeta. As hipóteses de termos sido, sermos ou vir a
ser visitados é débil, perante as distâncias
fabulosas (à escala das nossas dificuldades de
locomoção actuais, é evidente) é débil, mas não
implausível.
7.
Qual
o caso português que possa ser interpretado, à luz dos
conhecimentos actuais, como um eventual protótipo de
OVNI?
-
Existe
uma sequência de fotos tiradas a um objecto voador em
de Alfena (Valongo), nos arredores do Porto, em 10 de
Setembro de 1990. Este caso ocorreu cerca das 9 horas da
manhã, tendo sido recolhidos mais de 40 testemunhos
que, em diferentes locais da zona, registaram as evoluções
de um objecto voador atípico, em forma de globo, com
aparência metálica e cerca de 1,5 a 2 metros de diâmetro.
O engenho tinha um comportamento errático,
deslocando-se a cotas relativamente baixas, dando a
impressão de uma máquina comandada à distância. Uma
das testemunhas conseguiu fazer 4 fotos ao referido
objecto. A análise do filme confirmou as descrições
das testemunhas, que foram inquiridas no terreno pouco
mais de 24 horas depois da observação. A então Comissão
Nacional de Investigação do Fenómeno OVNI (CNIFO)
reuniu o máximo de informações sobre o incidente e
coordenou os passos seguintes da análise fotográfica
feita inicialmente no Instituto Nacional de Engenharia e
Tecnologia Industrial (INETI) com a colaboração do
Prof. Carvalho Rodrigues e do Dr. Bento Correia. Depois,
foram consultados os especialistas da Agência Espacial
de Toulouse, concretamente do SEPRA, uma agência
vocacionada para o registo e estudo das anomalias
aeroespaciais, através do Eng.º Jean-Jacques Velasco
e, mais tarde, foram promovidas novas análises, quer
nos Estados Unidos quer na Alemanha. No primeiro caso,
as fotos de Alfena foram analisadas pelo Dr. Richard
Haines, que trabalhara no Ames Research Center, da NASA
e, no caso da Alemanha, pelo Dr. Illobrand von Ludwig, físico
do grupo MUFON/CES. Ainda hoje persistem dúvidas sobre
a classificação positiva do "ovni de
Alfena", ou seja, não se pode afiançar, sem
sombras de dúvidas, que tipo de engenho evoluiu nos céus
de Alfena. E sobretudo a intrigante questão da sua
finalidade: porquê, ali, àquela hora da manhã...
8.
Além dos
RPV¹s, que outros objectos voadores podem convencer o
cidadão comum que está a presenciar o aparecimento de
um disco voador?
-
Balões e
sondas meteorológicas de todo o tipo, que o observador
pouco preparado ou mais distraído pode interpretar
erroneamente; veículos teleguiados militares que as
grandes potências têm vindo a desenvolver, com
destaque para os protótipos já utilizados na primeira
Guerra do Golfo; até mesmo um simples avião comercial
- isto para as situações nocturnas - pode
confundir-nos, dependendo do ângulo da trajectória e
da nossa perspectiva; as inúmeras experiências incógnitas
feitas na atmosfera terrestre e nos seus limites e por
fim, os fenómenos naturais, desde meteoros lentos a
plasmas e outras fontes que pela sua complexidade e
surpresa, se podem transformar em estímulos para
narrativas mais ou menos insólitas.
9.
Para além
de Alfena, quais os casos mais intrigantes de Objectos
Voadores Não Identificados registados em Portugal nas
últimas décadas?
-
Além do
caso referido, pelo envolvimento de tantas testemunhas e
a qualidade das fotografias -independentemente do factor
"estranheza" acabar por ser reduzido face à
hipótese, muito forte, de se tratar de uma espécie
ignorada de RPV - costumo eleger o caso de Montejunto,
de 2 de Novembro de 1982, em que dois aviões de treino
da FAP, com três pilotos da base da Ota, avistaram na
região e seguiram as complexas evoluções de um
objecto oval, de estrutura metálica, brilhante. Os
militares ficaram convictos das invulgares capacidades
aeronáuticas, de aceleração e manobra do engenho que
não conseguiram identificar positivamente. Na ocasião
foi-nos possível proceder a um demorado inquérito no
terreno, com a exemplar colaboração da Força Aérea
Portuguesa.
10. O fenómeno
conhecido por "crop circles" pode ser invocado como argumento na
defesa da existência de Objectos Voadores Não
Identificados?
- Não se
pensa que esse fenómeno constitua um argumento em
defesa do que quer que seja. Sendo certo que existem
tradições, e até registos gráficos desses
"signos" nas searas, que remontam ao século
XVII, em Inglaterra (o seu "país de eleição"
!), a intervenção humana na fase mais recente da sua
história dos "crop", incluindo a réplica
desses efeitos em anúncios publicitários de automóveis,
por exemplo, situa a questão numa esfera pouco crítica
e à mercê de oportunismos e manipulações diversas, o
que impede uma estratégia de abordagem científica séria
do problema.
11. O que
representa o projecto sobre os «portugueses e os
extraterrestres»?
- Este
projecto está
a ser desenvolvido no CTEC, na Universidade Fernando
Pessoa, e trata-se da primeira mega-análise que tem por
base uma rica e vasta massa documental produzida entre
os anos de 1940 e 2000 em Portugal. Ou seja, estamos a
estudar, partindo de uma "grelha" de avaliação
das informações, toda a gama de representações
iconográficas sobre o universo ET e demais elementos
das cerca de 700 narrativas em primeira mão relativas a
descrições de fenómenos tipo "ovni".
Pretende-se evidenciar, sob as mais diferentes
perspectivas disciplinares, da Psicologia Social à
Antropologia, passando pela Semântica, Ciências da
Comunicação, Sociologia, etc., toda a riqueza de um
"caldo" cultural que os observadores evocam
quando foram solicitados a preencher um questionário
sobre o que observaram. A equipa de cerca de uma dezena
de investigadores do CTEC vai procurar destacar, por
exemplo, todas as influências, leituras, desejos, memórias
dos portugueses que, num dado momento, testemunharam
algo de estranho nos céus do seu país. Contamos editar
uma antologia, na nossa colecção "Ciência e
Consciência", em parceria com a Ésquilo Editora,
com análises e abordagens inéditas e que julgamos
inovadoras no panorama académico nacional e até mesmo
internacional.
12. Como se
explica o facto de milhares de pessoas em todo o Mundo
manterem um enorme fascínio pela possibilidade de um
contacto com outras civilizações e culturas
extraterrestres?
- Diz-se que Einstein confessou um dia que "o mistério promete sempre
as mais belas experiências". Neste aspecto
particular, o desejo de procurar o Outro entende-se como
um sinal da nossa angústia face a uma impensável solidão
cósmica. O "estarmos sós" é algo que
atormenta o nosso inconsciente, ainda que não o
saibamos. Faz-nos sentir perdidos, atónitos, como o filósofo
Pascal, perante o Infinito que não compreendemos e,
talvez daí, como que órfãos à procura de um Pai. Época
após época, conquista após conquista, o "mistério
profundo" e o inexplicável resistem. Sob renovadas
formas, mais ou menos religiosas. Não são os ET's
objecto de culto nos nossos dias? Desiludam-se os que
possam pensar no esgotamento do misterioso, na explicação
definitiva do cosmos em que nos integramos. À medida
que se alargam as nossas fronteiras do conhecido,
aumentam proporcionalmente as margens do que ignoramos.
É um ciclo eterno, até à consumação do nosso
universo local do sistema solar, ao que parece devorado
pela nossa estrela no seu estertor final.
Joaquim
Fernandes, Novembro 2004.
|